segunda-feira, 24 de abril de 2017

Todas as minhas músicas são precedidas de uma história em geral, experienciada por mim e esta que nasceu de um profundo grito do meu coração, foi concebida em 2004 quando nasceu o meu filho Francisco da Mata e eu me encontrava desempregada e muito embora eu tivesse um razoável cachê à receber da Prefeitura de Campinas, de oficinas de Maracatú que havia ministrado pela ocasião do carnaval; eu me encontrava sozinha com minha filha Luzia Beija-Flor de 3 anos de idade, num pós parto do meu filho Francisco da Mata e sem condições financeiras para uma boa alimentação e sem condições físicas para sair imediatamente daquela situação...num dia daqueles quando eu ainda tinha arroz e feijão para comer, fui ao quintal e colhi algumas folhas da planta Dente de Leão para fazer de salada para eu comer com minha filhinha, porém as folhas do Dente de Leão que têm suas bordas bem desenhadas em zigue-zague espinhavam a boca de minha filhotinha que me dizia "mamãe, eu não quero comer isto" e eu tentava convencê-la a comer dizendo-lhe sobre as propriedades daquela "salada" : "Coma filhinha, esta planta é rica em sais minerais, clorofila e algumas vitaminas... é Dente de Leão, é muito bom", enquanto segurava as lágrimas para não caírem dos olhos, então Luzia me disse :"esta planta espeta minha boca (lágrimas) não é planta mamãe, é mato! Dente de Leão é bom; mas é difícil de comer! e chorava)...
Não aguentei e chorei em cima do rosto do meu filho Francisco da Mata que mamava em meu peito naquele instante, então me lembrei de quando morava no sertão do Maranhão, que la nunca comíamos Dente de Leão, que aliás la se chama Cravo de Urubú e que la, desde que meu pai começou a lavrar a terra e semear nela as sementes de que precisava, minha família nunca mais passou fome, entretanto eu estava ali no bairro Guará, Barão Geraldo, sub-distrito de Campinas, rodeada de professores da Unicamp e outros intelectuais e exotéricos e não tinha o que comer durante meu puerpério, então esta cantiga protesto saía do meu útero e entrava pelo meio da minha testa e girava numa roda sem fim gritando melodicamente.

DENTE DE LEÃO
(Maracatú- Nil Sena)

(rufando as alfaias)  
Eu quero um prato de feijão, com farinha e rapadura
que é da cana a doçura meu bem, como te ti é a formosura...
(entra Luanda, primeiro só agogô por três tempos e em seguida na cabeça do tempo da alfaia começa o canto)
DENTE DE LEÃO É BOM, MAS É DIFÍCIL DE COMER!
DENTE DE LEÃO É BOM, MAS É DIFÍCIL DE COMER!
EU QUERO É VER O CIDADÃO, CHEGAR NO MEIO DO SERTÃO
PISAR O DENTE DE LEÃO E O SERTÃO NÃO LHE COME!
EU QUERO É VER O CIDADÃO, CHEGAR NO MEIO DO SERTÃO
PISAR O DENTE DE LEÃO E O SERTÃO NÃO LHE COME!

EU VIM AQUI FOI PRA DIZER, TANTA COISA HÁ PRA FALAR
MAS QUERO VER O SERTANEJO, SENDO FELIZ POR INTEIRO
SEM TER TERRA PRA PLANTA
EU QUERO É VER O SERTANEJO, SENDO FELIZ POR INTEIRO
SEM TER TERRA PRA PLANTAR!

EU VIM AQUI DIZER QUEM SOU, VOS NÃO VAIS SE ASSUSTAR
MAS COMO VIVER SEM RANCOR, NESTA TERRA DE DOUTOR
SE EU NEM TENHO ONDE MORAR
COMO VIVER SEM RANCOR, NESTA TERRA DE DOUTOR
SE EU NEM TENHO ONDE MORAR!

QUE O BRASIL É MUITO BOM, EU NÃO ME CANSO DE DIZER
É A MAIS BELA NAÇÃO, O PAÍS DA EXPORTAÇÃO
E EU NÃO TENHO O QUE COMER
É A MAIS BELA NAÇÃO, O PAÍS DA EXPORTAÇÃO
E EU NÃO TENHO O QUE COMER!

AGORA VOU ME RETIRANDO, ANTES VOU ME APRESENTAR
EU SOU CABOCLA VERDADEIRA, PRA ESSAS TERRAS EU VIM PRIMEIRA
E QUEM CHEGOU POR DERRADEIRA...ATÉ MIN'HALMA QUIS ROUBAR
EU SOU CABOCLA VERDADEIRA, PRA ESSAS TERRAS VIM PRIMEIRA
E QUEM CHEGOU POR DERRADEIRA...ATÉ MIN'HALMA QUIS ROUBAR
ATÉ MIN'HALMA QUIS!
ATÉ MIN'HALMA!
ATÉ MIN'HALMA QUIS ROUBAR, ATÉ MIN'HALMA QUIS ROUBAR
ATÉ MIN'HALMA QUIS ROUBAR!.


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